Doenças Inflamatórias Intestinais- Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa

O que é DII?

Doença Inflamatória Intestinal é um grupo de doenças inflamatórias crônicas de causa desconhecida envolvendo o Aparelho Digestivo. A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é uma afecção na qual o intestino se torna vermelho, inchado e com feridas espalhadas pelo intestino. As Doenças Inflamatórias Intestinais podem ser divididas em dois grupos principais, a Retocolite Ulcerativa (RCU) e a Doença de Crohn (DC).

Ninguém sabe exatamente as causas da Doença Inflamatória Intestinal, ou por que algumas pessoas são portadoras dessa doença e outras não. Nós sabemos que a doença intestinal é encontrada no mundo todo, mais frequentemente na América do Norte e no Norte Europeu; menos frequentemente na Europa Central, no Oriente Médio e Austrália, e menos ainda na Ásia e África. Ela é mais predominante em climas temperados do que em climas tropicais.
Não parece haver nenhuma característica comum entre as pessoas portadoras da Doença Inflamatória Intestinal. Qualquer um pode desenvolver essa doença, não importando o sexo, a raça, ou a idade. As pessoas são mais frequentemente diagnosticadas com essa doença entre as idades de 15 a 25 e 45 a 55.

Há uma tendência em filhos e outros parentes de portadores da doença de desenvolvê-la também. Isso pode ocorrer por fatores genéticos. A Doença Inflamatória Intestinal pode ser controlada através de terapia nutricional, medicação, cirurgia ou uma combinação destes tratamentos.

Qualquer pessoa pode desenvolver essa doença, não importando o sexo, a raça, ou a idade.

Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa (RCUI)

Doença de Crohn (DC): o Doutor Burril Crohn foi um médico de Nova Iorque que, em 1932, descreveu pela primeira vez um grupo de pacientes com a doença intestinal que hoje tem o seu nome.

A DC se caracteriza por uma inflamação que penetra toda a espessura da parede intestinal. Ela pode atacar qualquer parte do aparelho digestivo, desde a boca até o ânus. Essa doença não pode ser curada diretamente através de cirurgia, pois pode ocorrer novamente em outras partes do trato digestivo. Vale a pena salientar que a maioria das doenças crônicas, como por exemplo diabete e pressão alta, também não podem serem curadas, mas são efetivamentes tratadas com medicamentos.

Retocolite Ulcerativa (RCU): esta doença ataca o revestimento interno do intestino grosso causando inflamação, ulceração e sangramento. Sendo restrita exclusivamente ao intestino grosso, algumas vezes a doença pode ser controlada pela remoção de todo o cólon.

Sintomas: Durante uma crise, pacientes portadores da RCU quase sempre sofrem diarreia com sangue. Este sintoma pode estar associado a cólicas, cansaço, perda de apetite e perda de peso.

Os sintomas da DC são mais variados. O mais comum é a dor abdominal, que pode estar associada a diarreia e/ou perda de apetite e perda de peso. Entretanto, alguns pacientes podem não apresentar tais sintomas. Eles podem ir ao médico por causa de febres de origem desconhecida, feridas em torno do ânus, dor ou inchaço nas juntas, anemia ou baixa taxa de crescimento.

Diversos sintomas não relacionados diretamente ao intestino podem ocorrer juntamente com as crises da DC e da RCU e são chamados de “manifestações extraintestinais”.

Diferenças entre a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa

Doença de Crohn (DC):

  • Qualquer parte do trato gastrointestinal pode ser afetada, desde a boca até o ânus;
  • A inflamação pode ocorrer em todas as camadas da parede intestinal;
  • A inflamação é descontinua (também chamada de “áreas poupadas”) e pode haver áreas de intestino normal entre as áreas de intestino doente;
  • Sintomas: diarreia, dor abdominal, sangramento, diminuição do apetite, perda de peso, fraqueza, fadiga, náusea e vômito, febre e anemia;
  • A cirurgia pode ser necessária, mas não cura a doença.

Retocolite Ulcerativa (RCU):

  • Afeta toda a área do Intestino grosso;
  • A inflamação ocorre apenas na camada que reveste o intestino; A inflamação ocorre de forma contínua, desde o reto até uma distância variável;
  • Sintomas: diarreia com sangue, dor abdominal, perda de apetite, perda de peso, náusea e vômito e anemia. A remoção do cólon é, em alguns casos uma opção terapêutica.

Exame para constatação da DII

Infecções e muitos outros problemas relacionados à sua saúde podem ser confundidos com a DII, por isso é importante que você e o seu médico tenham certeza do diagnóstico.

Quando você procurou o médico, ele provavelmente perguntou sobre o histórico médico da sua família. Essa é uma pergunta frequente, pois a DII é uma doença hereditária. Outro procedimento comum é que o médico peça exames de sangue. Os exames de sangue podem detectar a presença de inflamação ou infecção no corpo ou anemia (baixa contagem de glóbulos vermelhos no sangue). O próximo passo é um exame de fezes, para detectar sangramento.

Além do seu médico, é importante consultar-se com um coloproctologista ou um gastroenterologista – médicos especializado em doenças do aparelho digestivo como a DII. O coloproctologista ou o gastroenterologista podem fazer um exame chamado colonoscopia, que é simplesmente a verificação ou visualização do cólon para detectar sangramento, úlceras ou outro nas paredes do cólon. Este exame consiste em inserir um tubo fino, chamado endoscópio, pelo ânus. O endoscópio, na verdade, é um tipo especial de vídeo câmera, ligada a um monitor de tv. Durante este procedimento, o médico pode remover um pequeno pedaço da parede intestino. Este procedimento é chamado de biópsia. A parte removida é levada ao laboratório para análise mais detalhada.

O paciente recebe um sedativo para que não sofra dor ou desconforto durante o procedimento.

O gastroenterologista também pode fazer outro exame com o endoscópio, a endoscopia. Desta vez, o tubo entra pela boca e desce pelo esôfago (tubo que conecta a boca ao estômago). Este teste é chamado endoscopia digestiva superior. Seu propósito é visualizar o esôfago, estômago e o intestino superior, para detectar sangue nas fezes, úlceras ou inflamação em qualquer um destes órgãos.

Outro exame é chamado de RX transito intestinal. Para que esse procedimento aconteça, o paciente ingere um líquido grosso e leitoso chamado bário. Uma série de raios-x é tirada à medida que o bário se move pelo organismo. Cada pessoa tem reações diferentes e o tempo varia. O bário mostra um contraste branco nos raio-x, proporcionando ao médico uma boa visualização dos intestinos.

Outro exame que o seu especialista pode pedir é uma Enterorresonancia Magnética.É uma Ressonância Magnética especial que estuda a parede do intestino apontando anomalias e sinais de inflamação.

Outro exame que vai ser solicitado é a Dosagem da Calprotectina fecal. Este exame mede essa substância nas fezes, a calprotectina, que indica inflamação no intestino. Muitas vezes esse é um exame essencial para o diagnostico de DII.

O portador de DII deve fazer exames de sangue regularmente, para ter certeza de que está ingerindo todos os nutrientes necessários. O médico também avalia, através do exame de sangue, se a medicação está sendo eficaz. Outros exames serão feitos repetidas vezes, para observar o progresso da doença. Converse com o seu médico sobre os exames que você precisará fazer.

Tratamento clínico das DIIs

Aminossalicílicos

O tratamento médico da Doença de Crohn (DC) e da Retocolite Ulcerativa (RCU) tem dois objetivos principais: chegar à remissão (e, uma vez atingido este estágio, manter a ausência total de sintomas (evitar as crises). Os aminossalicílicos (5-ASA) são utilizados tanto para a remissão quanto para a manutenção da remissão. No entanto, uma vez que a doença de cada indivíduo pode ser diferente, não há um tratamento que seja eficiente para todos os tipos de DII. O tratamento deve ser planejado para atender às necessidades de cada paciente.

Os aminossalicílicos são compostos que contêm 5-aminossalicílico (5-ASA). Estes medicamentos, que podem ser administrados por via oral ou retal, interferem na habilidade do corpo de controlar a inflamação. Eles são prescritos no tratamento de episódios leves da DC e principalmente no tratamento da RCU tanto na fase aguda como de manutenção.

Sulfasalazina (Azulfim®) é o primeiro aminossalicílico a ser amplamente usado no tratamento da DII. A porção ativa desta droga, 5-ASA, está ligada à sulfapiridina, um composto que leva o 5-ASA ao intestino grosso, mas pode provocar efeitos colaterais em alguns pacientes, tais como dores de cabeça, náusea e reações alérgicas. Entretanto, a sulfassalazina é barata e eficaz para muitos dos pacientes, principalmente com inflamação do intestino grosso e que não sofrem de intolerância a essa substância.

Pesquisadores desenvolveram novas drogas que também podem ser administradas oralmente e que levam o 5-ASA ao intestino, sem a sulfapiridina. Entre elas estão:

Mesalazina (Mesacol®, Pentasa®, Chroh-ASA®);
Olsalazina (Dipentum®) – Não disponível no Brasil
Balsalazida (Colazal™) – Não disponível no Brasil

Até 90% das pessoas que têm intolerância à sulfasalazina podem fazer uso de outros 5-ASAs.

Além das formas orais convencionais, há varias outras formas de se conduzir o 5-ASA ao intestino. Os pacientes portadores da DCou da RCU podem ter inflamações em diferentes áreas, por isso foram feitos diferentes 5-ASAs para serem conduzidos a diferentes partes do intestino:

Formulações de Mesalazinas: são eficazes exatamente por que elas se desviam do estômago para evitar a absorção do medicamento neste local.

Elas então conduzem o medicamento até a área próxima da área inflamada do intestino. Neste local a medicação age localmente no intestinal inflamado e reduz assim a inflamação. O Pentasa® libera a medicação de maneira uniforme por todo o intestino, já o Mesacol® e o Chron-ASA® libera a medicação no íleo terminal e ceco.

Fórmulas de Enemas de mesalazina (Pentasa®, Chron-ASA®): permite que a mesalamina seja diretamente aplicada na parte final do intestino. A medicação é eficaz no tratamento da Retocolite e que afeta o lado esquerdo do cólon. Aproximadamente 80% dos pacientes com a doença localizada à esquerda do cólon se beneficiam fazendo uso deste tratamento uma vez por dia.

Supositórios de mesalazina (Pentasa®, Mesacol®): permite que a mesalamina seja diretamente aplicada no reto. Uma grande porcentagem dos pacientes portadores da Retocolite Ulcerativa – RCU que se limita ao reto, responderão bem aos supositórios de mesalamina. Estes supositórios são normalmente administrados em doses únicas ou de duas vezes ao dia. Uma combinação de mesalamina tópica e comprimidos pode ser mais eficaz do que os comprimidos sozinhos.

Efeitos Colaterais

Sulfalazina: os efeitos colaterais podem incluir dores de cabeça, náusea, perda de apetite, vômito e reações alérgicas. A sulfasalazina pode também reduzir a produção de esperma no homem, enquanto ele estiver fazendo uso da medicação (a contagem de esperma volta ao normal após a suspensão da medicação). Está raramente associada à inflamação do pâncreas (pancreatite).

Mesalazina: Os efeitos colaterais podem incluir cólicas abdominais, diarreia, gases, náusea, queda de cabelo, dores de cabeça e tontura. Geralmente são bem tolerados.

Interações de Medicamentos

Pacientes que fazem uso de diferentes medicamentos ao mesmo tempo, sejam eles prescritos pelo médico ou adquiridos sem prescrição, devem estar sempre atentos para a interação entre eles. A interação entre certos medicamentos pode ter efeitos dos mais diversos: pode reduzir a eficácia dos medicamentos, intensificar sua ação, ou ainda provocar efeitos colaterais inesperados. Antes de fazer uso de qualquer medicação, leia a bula com cuidado. Certifique-se de informar ao seu médico sobre todos os medicamentos que você esteja usando (mesmo aqueles sem prescrição médica ou que tenham como função tratamentos complementares) e sobre qualquer outra condição sobre a sua saúde. Lembre-se! Pacientes com DII não devem fazer uso de qualquer antiinflamatório não esteroide como: diclofenaco, AAS e etc…

Considerações Especiais

A sulfasalazina não deve ser usada por pessoas que sejam alérgicas ou que tenham intolerância aos medicamentos que contenham sulfa (aproximadamente um terço dos pacientes em tratamento). Outros medicamentos que contêm sulfa devem ser usados com cuidado caso seja necessário usá-los juntamente com a sulfasalazina.

Cada paciente é único e tem necessidades que não são necessariamente semelhantes às necessidades de outros pacientes. As necessidades de cada paciente podem também mudar com o tempo. Mantenha contato com o seu médico regularmente e informe-se sobre todas as opções cirúrgicas e de tratamento médico disponíveis para você.

Pacientes em uso de 5 –ASAs estão em geral seguros durante a gravidez e o período de amamentação.

Considerando-se que a Doença Inflamatória Intestinal é uma condição crônica, é aconselhável que o paciente mantenha a medicação mesmo quando se sentir bem.

Novas terapias

A chamada terapia biológica, baseada em anticorpos, vem mostrando na prática que pode diminuir drasticamente as avassaladoras inflamações características dos portadores destes males. Para aqueles que possuem a pré-disposição genética para desenvolver DC ou RCU, o sistema imunológico não consegue se “desligar”, mesmo depois que as bactérias nocivas morrem, o que causa a forma crônica da doença.

Contudo, a nova terapia biológica promete revolucionar o tratamento destas doenças. Antes fadados ao sofrimento, pacientes agora apresentam melhoras substanciais em poucos meses.

O TNF-alfa (TNF, do inglês: tumoral necrosis factor – fator de necrose tumoral) é o grande responsável pela revolução no tratamento. Desde meados da década de 1990 se passou a conhecer seu importante papel como mediador da resposta inflamatória no intestino humano.

Nos Estados Unidos, o infliximabe foi aprovado pelo FDA (Food and Drugs Administration) para o uso em portadores de Crohn no ano de 1998. No Brasil, a droga foi aprovada pela ANVISA (Agência Nacional de Saúde – Ministério da Saúde) para uso em doença de Crohn em 2000, e para uso em portadores de retocolite ulcerativa em 2006. O adalimumabe, outro agente anti-TNF, foi aprovado pela ANVISA para uso na DC em 2007. No início da experiência clínica com esse novo tratamento, essas drogas eram usadas em último caso. Normalmente quando o paciente já se encontrava em um estado clínico muito ruim. Contudo, recentemente,estudos clínicos evidenciaram que, em alguns casos, devemos utilizar essas drogas biológicas mais precocemente – o que se passou a chamar terapia top-down. Hoje existe evidência científica que as drogas biológicas podem mudar a história natural da DC e da RCU. Existe uma nova droga com um mecanismo diferente, da familia das Anti Integrinas, que impedem aos leucócitos de migrar na parede do intestino e estimular a inflamação. No Brasil é o Vedolizumabe (nome comercial Entyvio) que é atualmente a ultima fronteira do tratamento da RCU e da Doença de Crohn, com um bom perfil de segurança pelo paciente.Existem também outros medicamento, como o Certolizumabe, que também foram aprovados para o tratamento da DII. O seu médico lhe indicará o melhor medicamento para a sua situação.

Fonte e Direitos Autorais: www.gediib.org.br